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terça-feira, 12 de junho de 2012

O Templo da Criação


Se lermos este salmo com o espírito do salmista, aflora-nos a consciência do que verdadeiramente somos. O cosmo e tudo foi criado para o homem, mas não para que ele se sentisse o “dono” e sim para que ele colocasse Deus no seu devido lugar: Deus é o dono, Deus é tudo. E mesmo sendo Deus o Tudo ele doa ao homem o mundo e tudo que Ele criou. Todo o cosmo testemunha essa realidade.

O salmista penetra na natureza não como dominador em seus territórios, mas como um admirador que estabelece relações afetivas e fraternas com todos os seres porque esses seres trazem gravados em seu interior a imagem de Deus.

O salmista lança-se maravilhado os olhos e a mente sobre a criação sem o menor interesse de posse. Ele vive um momento de idílio, de adoração, que o impulsiona a cantar a Deus na criação.

É a verdadeira imagem do pobre bem aventurado do Sermão da Montanha. A adoração por sua carga de maravilhamento, faz com que o adorador esqueça-se de si mesmo e volta-se para o Outro, que é o objeto de sua adoração, e ai ele vive a suprema libertação. Como bem disse Inácio Larrañaga: “não existe no mundo terapia psiquiátrica tão libertadora de obsessão e angústias como a adoração.”

O salmista deste salmo vive o encantamento ingênuo de uma criança, o qual deve servir-nos de exemplo. O maravilhamento é um fenômeno humano específico das crianças o qual devemos procurar resgatar em nós e não permitir a perdermos, porque é uma perda irreparável – é o mesmo que passar pela vida sem perceber a beleza do encantar-se diante da beleza da vida.

O salmista deixa claro que a majestade e o poder divinos estão tão à vista, são tão patentes e evidentes que até as crianças de peito que só sabem mamar, podem ser testemunhas.

Começa sua narrativa evocando Deus, reconhecendo a impressão digital de Deus, em toda a beleza da criação. Percebe Deus o Criador de tanta beleza e O supõe de uma beleza incomparável. Aí ele se dá conta de si mesmo e descobre a insignificância do homem. Não se sente humilhado por sua pequenez e insignificância, se sente feliz porque Deus é Deus e está acima de qualquer comparação. Não está voltado para a sua pequenez mas está extasiado, contemplando a beleza do Outro.

Apesar de constatar a sua pequenez ele percebe-se lembrado por Deus: “...que é o homem, para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho?” – é como um reconhecimento, de uma experiência de proximidade com Deus: só se lembra daquilo que se está no coração. Se Deus lembra do homem é porque o homem está no coração de Deus. E isto basta para o homem se sentir o predileto da criação.

Deus criou o homem livre e essa liberdade é como uma espada de corte duplo: a liberdade que pode ser vida ou morte, fonte de grandeza ou de ruína. A maior categoria do homem é sua identidade pessoal única que não se compara a ninguém, mas há atributos nele que são de Deus, porque foi feito à imagem e semelhança de Deus. Os humanos carregam em si potencialidades infinitamente grande quando “é com Ele” e é constituído sob as medidas de Deus: carrega em si exigências de infinito e infinitos finitos não o podem saciar. Por isso ele caminha em direção ao Infinito Deus. Caminha ao destino é um peregrino do Absoluto.


(texto meditado a partir do Livro Salmos p a Vida, autor, Inácio Larrañaga, Editora Vozes, p 69 a 81)



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