Capítulo
I
Fé e Razão
·
A razão é orgulhosa e soberba, tendendo à arrogância. A Fé,
entretanto, é humilde, porque compreende que a verdade está não na própria
razão, mas em Deus. Mas, se a razão está alicerçada na fé, é sinal de que a
razão encontrou com suas raízes, em sua origem que é Deus, o seu criador e
criador de todas as coisas.
·
São Justino,
filósofo (Século II) afirmava que “Toda pessoa, criada como ser racional,
participa do Logos, que leva desde a gestação e pode, por isso, perceber a luz
da verdade”. Em outras palavras,
ele estava dizendo que todo ser humano, desde a sua concepção tem em si a
imagem e semelhança do seu Criador, podendo assim participar de Sua Divina
Sabedoria, que lhe concede perceber a verdade das coisas.
·
Blaise Pascal físico, matemático, filósofo
e teólo-go francês do século XVII dizia a respeito de quem dá um valor
excessivo à razão: “Dois excessos: excluir a razão e só admitir a razão". Observando
as incoerências humanas em seu tempo dizia:
“O homem está sempre disposto a negar
tudo aquilo que não compreende." E aqui uma frase célebre de
Pascal: "O coração tem razões
que a própria razão desconhece."
A RAZÃO está estritamente ligada ao humano, e a FÉ ao divino, embora no humano as duas se manifestam. O confronto entre o humano e o divino é evidente desde o início da criação. Mesmo que o divino e o humano se manifestam e se confrontam nas mesmas criaturas, num dado momento se completarão. Porque o humano, como racional está a caminho e nesse caminho de encontros e desencontros, de afetos e desafetos vive-se como que às cegas, e um dia despertará na espiritualidade que é o destino eterno de todos.
A essência humana criada à imagem e semelhança com Deus é divina, e o afastamento da presença visível com o Criador não rompeu os laços com a sua origem, mas transformou o humano como um cego à beira do caminho, clamando a Jesus a cura de sua cegueira (como Bartimeu, o cego de Jericó, do Evangelho). E Jesus dirá: Que queres que eu faça? E responderá o humano: Que possa ver novamente! E verá, à medida que se livrar da arrogância racionalista, e conceber-se como dependente de Deus e não de suas próprias convicções.
A razão,
portanto, é o humano a caminho da perfeição, que vai se concretizar no divino,
quer acredite, quer não acredite, chegará o momento em que o humano clamará por
salvação e é a Fé que o salvará.
Mas por enquanto
o que se vive nos dias atuais é um racionalismo excessivo que está como que
entranhado nas mentes das pessoas e as impede de viver a experiência da fé
verdadeira em Deus e perceber os sinais do divino (Espírito Santo) e são muitos
e visíveis a todos, mas não podem enxergar porque estão cegos à fé. A razão, como
a fé, está inserida no humano, mas o racionalismo é a exacerbação da razão que
tende a eliminar a fé, ou relegá-la ao segundo plano. O próprio Cristo já
alertava quando aqui esteve há dois mil anos: “Será que quando o Filho do Homem voltar encontrará fé sobre a terra? ”
Pois já estamos vivendo este tempo, onde a fé é questionada, e até mesmo
dentro das igrejas vemos pessoas duvidando dos testemunhos de fé. Veja os casos
das aparições de Maria e de Jesus ao longo do cristianismo. Mesmo aquelas em
que a Igreja as reconheceu, pouco se fala nelas ou não lhes dá o devido valor.
Como exemplo cito a Devoção ao Sagrado Coração de Jesus (primeira sexta-feira
depois da Festa de Corpus Crist), que deveria ser uma festa cristã de extrema
importância não é dado o devido valor; cito também a Festa da Divina
Misericórdia (no primeiro domingo depois da Páscoa), grande parte das paroóquias
deixam que passe despercebida esta data, e não é divulgada como Jesus pediu a
Santa Faustina.
A verdade, é que no
mundo há duas igrejas, uma racional e outra divina, espiritual. A racional está
se sobrepondo à divina, de tão racional se tornou racionalista em sua soberba.
Enquanto isto a humanidade agoniza e aguarda como o cego na beira do caminho,
bradando: pelo amor de Deus, Filho de Davi, estás passando e eu
preciso te encontrar. A Igreja humana dizendo, no seu racionalismo, como os
apóstolos de Jesus disseram ao cego de Jericó: Não incomodes o Mestre; e a
Igreja divina falando: Jesus te chama, coragem, vai lá! E Jesus, então dirá a
todos que forem a Ele: A tua fé te salvou. (Estas considerações são
de Raymundo Lopes, estão no site http://www.espacomissionario.com.br/ - link: http://www.espacomissionario.com.br/jornal-2013/Jornal-Mae-Peregrina-107).
Ou seja: A fé abre os
olhos, salva-nos da cegueira. Porém a humanidade cega anseia por ver de novo as maravilhas na
Igreja, mas isto só é possível pela fé. E a fé está em queda, dando lugar ao
racionalismo.
1. A Razão está vinculada à Fé
A
Fé está intrinsecamente ligada à razão,
como característica essencial da razão. Como a fé faz parte da essência do
homem? Como fator de motivação que favorece a continuação da própria espécie
humana, sem a qual não se poderia se relacionar com alguém de maneira íntima, e
os relacionamentos se limitariam ao instinto apenas, que não é uma
característica só da espécie humana, mas de todas as espécies existentes. A fé
faz parte da razão na medida em que ela dá razão ao existir.
Então,
podemos dizer que sem a fé as pessoas agiriam como animais, existia um
amontoado de pessoas sem uma identidade familiar que pudesse lhes dar sentido
fraterno entre si. É verdade que temos convivido em uma sociedade que não está
longe de caminhar assim, há falta de fraternidade, falta de convívio familiar,
e isto podemos perceber no quanto a família está se deteriorando, quantos
filhos “sem pai” e sem família. Se falta a fé, falta também as relações afetivas,
porque a fé é um sair de si mesmo, para que o outro tenha espaço em si. Sem a fé não poderíamos confiar nem mesmo no
que alimentamos, porque não sabemos a procedência do que oferecemos em nossa
mesa. Sim, o instinto tem fome, que é uma necessidade básica, mas e aí...
comeríamos qualquer coisa para saciar a fome, e assim comeríamos uns aos
outros.
Como disse, a fé é um sair de si e sabemos que ninguém vive do próprio ego, precisamos uns dos outros, como precisamos de nós mesmos. E precisamos de QUEM nos criou assim, para que a vida tenha sentido.
2. O Ceticismo
Ateu
Ceticismo
é a prevalência da razão sobre qualquer ideia, sem exceção à regra. Em outras
palavras… os céticos não entram em uma investigação quando não há a
possibilidade de que o fenômeno seja real, e de que a crença seja verdadeira,
pautada nos sentidos humanos materiais. “Quando alegamos que somos céticos, queremos dizer que queremos ver
evidência convincente antes de acreditarmos”.
Os
céticos materialistas ateus sustentam a sua “não crença” em Deus, no fato de
que aquilo que não se pode demonstrar ou manipular não existe, alegando que a
racionalidade é uma característica de pessoas inteligentes e sábias. Assim,
consideram falta de inteligência pessoas que recorrem à fé uma vez que a fé é
um fenômeno não palpável.
Pessoas
que assim pensam se valem de uma razão questionável, facciosa, ilusória e
incompleta. O ser humano foi feito para
a totalidade e a totalidade supõe o corpo e o espírito. Esse modo de pensar,
não incluindo a FÉ como uma, também importante medida, cria um obstáculo ao
amadurecimento integral da pessoa, como ser material e espiritual. A fé
qualifica o espírito e reflete em todo o ser da pessoa, se desconsiderá-la a
razão ficará comprometida, defeituosa, capaz de distorcer a realidade, porque
usa apenas uma parte da sua capacidade.
E não é
só o fato de não se crer na existência de um Ser Criador e Regedor de tudo, que
a torna desfigurada. É a falta de humildade em admitir que exista algo que a
controla e guia ao qual deve se submeter.
Eu me
pergunto: será que os tais céticos já se perguntaram sobre o significado da
vida? Ou ainda: de que e para que é feita a realidade?
Quero
deixar aqui os dizeres de um rapaz de nome Beethoven Brandão, o qual compartilho das suas argumentações e
acho-as bem apropriadas para o assunto que estou abordando:
“Quando uma pessoa leiga em medicina
toma um medicamento ela o faz por fé na palavra do médico, pois ela não faz
ideia das substâncias químicas contidas em tal droga e não conhece o
laboratório que a desenvolveu. E porquê ela o faz? Porque existem evidências
que comprovam que tal medicamento é eficaz.
As pessoas que acreditam que existe um
Deus pessoal, nunca viram Deus, mas existem inúmeras evidências de sua
existência. É impossível você observar o universo assombroso o qual habitamos
com suas intrincadas leis físicas, a grande variedade de criaturas que povoam o
nosso planeta e as suas relações mútuas, o complexo funcionamento das células
dos diversos organismos vivos e não enxergar o dedo de Deus! Todo projeto
implica um projetista, toda lei, um legislador e toda criação, um criador. Uma
pessoa em sã consciência não sai caminhando por aí e ao achar um relógio de
pulso exclama: Louvada seja a física quântica, como é maravilhoso que os átomos
se agrupam espontaneamente resultando nesta bela peça! Tal pessoa utilizando-se
de sua inteligência inferirá que houve alguém que fez o relógio e por que seria
diferente com a natureza? O Salmo 19.1 diz: “Os céus proclamam a Glória de
Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”.
Muitos Não querem admitir que Deus
exista porque a sua própria divindade exige submissão e serviço. Tais pessoas
criaram um conjunto de teorias que se adapte a uma vida sem Deus não querem
admitir que exista um legislador, pois estariam sujeitas às suas leis, essas
pessoas já têm as suas próprias regras e julgam não precisar de mais nenhuma
outra”.
(http://beethovenbrandaocorreiadelima.blogspot.com.br/.
Pessoas
intransigentes em seu modo de pensar colocam barreiras na mente por se acharem
autossuficientes, donas da verdade. E mesmo as pessoas de fé não estão livres
de, em alguns momentos de suas vidas se acharem possuídas da verdade absoluta,
ou mesmo experimentarem confusão por defenderem uma fé intransigente. Podem,
ainda, passar por momentos de escuridão e falta de discernimento. Muitos dos santos, de inteligência invejável
passaram por momentos de aridez total, mas a vantagem destes sobre os ateus céticos
é que recorriam à fé e recobravam a capacidade criativa e produziam ainda mais
do que antes.
Mas, em
si falando de um Ser por trás do Universo e de toda a criação, qualquer pessoa
sensata, tem de admitir que, diante da natureza e da maravilhosa máquina que é
o corpo humano, existe algo aí além do que se possa imaginar e criar por si. Se
acredito apenas naquilo que posso ver e tocar ou demonstrar cientificamente,
como é limitada a minha percepção da realidade. Como é limitada de significado
a vida de quem pensa acabar debaixo de um amontoado de terra.
2.1 E os céticos entendem o sofrimento com uso da razão apenas?
A
razão sem a fé não explica o sofrimento. Os ateus não têm uma explicação para o
sofrimento que satisfaça: afirmam que o sofrimento é a prova de que Deus não existe,
já que um Deus poderoso e bom não poderia conviver com o sofrimento nas suas
criaturas; ou questionam a Sua existência, poder e bondade, pelos sofrimentos
permitido aos inocentes.
A
resposta ao sofrimento só a temos através da fé em Jesus Cristo, o Filho de
Deus. Só olhando com os olhos da mente inteligente, encarando profundamente os
sofrimentos de Cristo podemos encontrar sentido ao sofrimento, porque tudo em
nós rejeita o sofrimento. Sofrer é sacrificar-se e ninguém quer o sacrifício,
por menor que seja, muito menos o sacrifício que leva ao sofrimento.
O
sacrifício de Cristo para o homem representa um sair de si para viver a dor do
outro. É Deus saindo do seu trono e vindo ao encontro do homem, se rebaixando
ao nível humano, a troco de quê? Quando se vive o sofrimento e o encara de
frente tendo como pano de fundo o sofrimento de Cristo, encontramos sentido no
sofrimento. Porque quando vemos Aquele Homem-Deus, sendo incompreendido,
rejeitado, aprisionado, chicoteado, sangrando até a última gota de sangue, nos
perguntamos, por quê? Aí vamos encarando esta realidade cada vez mais e mais de
perto até chegarmos ao ponto que nos satisfaça. Me satisfaz porque encontro
sentido em tudo ISTO. E aí se escancara diante de mim: o sentido DISSO, desse sofrimento,
sou eu, porque me identifico na minha dor, na dor do inocente que não tenho em
mim o dom de aliviar a dor dele, por mais que eu deseje e a única atitude que
me resta é sofrer com ele. Aí percebo que Ele, Cristo também era inocente e
sofreu e morreu – como Ele pôde? Ele não precisava. Ele era Deus! Deus que saiu
de Si para ser como “eu”. Mas por quê tudo isto? Aí eu tenho que aprofundar, e
aprofundando eu encontro, no exemplo da vida e nos ensinamentos de Cristo,
“tudo” o que preciso saber e viver, para que a vida tenha sentido, mesmo que
tenha que ser uma vida de sacrifício e dor... E assim, sou redimida. É esta a
redenção que Cristo nos trouxe. Se alguém ingenuamente, pensou que Cristo já
sofreu tudo, e com o Seu sofrimento o livrou do sofrimento está muito enganado,
porque o que vem logo a seguir é o prêmio por ter sofrido para fazer a vontade
de Deus: a Ressurreição. Não tem ressurreição sem sofrimento, sem a morte, e a
obediência a Deus é a única forma para receber o prêmio da ressurreição. Se não
for assim não haverá ressurreição, mas a morte eterna.
Então,
a vida humana será sempre uma “batalha”, um sacrifício que só será vencida se
saber vivê-la com dignidade, sem lamentação e murmuração, mas abraçá-la como
ela vem, para sair dela vitorioso. E a fé nos leva à vitória, porque com ela
alcança-se a redenção, que é a “graça”, dom de Deus que está disponível a toda
a criatura humana.
Há
pessoas que diante do sofrimento a sua vida se transforma num lamento e culpam
Deus por tudo, Se Ele é poderoso porque não interviu? .... Se comportam assim
os ateus e dizem, se Ele existe mesmo porque esse sofrimento, porque logo eu
que sou uma pessoa justa e boa com os outros? .... Carregamos em nós heranças
genéticas, por erros dos nossos antepassados ou nossos mesmos. Sempre se colhe
o que se planta, tudo o que fazemos tem consequências se não para nós, terá
para as gerações futuras. Mas Cristo nos ensina que para segui-Lo precisamos
carregar a própria cruz (“se alguém quiser me seguir tome a sua cruz e
siga-me”, Mateus 10,38). Isto, quer dizer que o sofrimento é inerente da pessoa
humana e que devemos aceitá-Lo, como Ele, Jesus, praticando o bem e fazendo o
bem a quem sofre. Assim, a fé em Cristo nos revela que o sentido do sofrimento
está estreitamente ligado à vida e dá-lhe um novo sentido. Isto porque a fé em
Cristo coloca a pessoa em posição de expectativa porque reacende nela a
esperança. Pela fé, a pessoa se arma de esperança, porque dá a certeza da
presença de Cristo que compartilha consigo dos sofrimentos. E não só isso, ao
contemplar o sofrimento de Cristo a pessoa é tomada pela graça de Deus que a
harmoniza e lhe dá serenidade.
3. Testemunho De Fé Interagindo Com A Razão
Compartilho
aqui o TESTEMUNHO vivo de um homem que foi aprisionado e sofreu torturas
imensas por sua fé em Cristo (vide link vídeo abaixo). É o testemunho de uma
extrema liberdade que só a tem quem possui uma fé verdadeira.
Vídeo-documentário - https://youtu.be/9FHJUTXy6r8, do depoimento de um homem de Eritréia (país da África, que faz fronteira com o Sudão e Etiópia, e a Arábia Saudita e Iêmen do lado leste, tendo o Mar Vermelho entre eles).
Destaco as Palavras de Jesus no Evangelho de João 16,20-23:
“(...) a vossa tristeza se há de transformar em alegria. (...) estais tristes, mas hei de ver-vos outra vez (através do Espírito Santo), e o vosso coração se alegrará e ninguém vos tirará a vossa alegria. (...) Em verdade, em verdade vos digo: o que pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos dará”.
A alegria cristã não é ingênua, nem descompromissada com a História. O cristão se alegra, entregando-se e sujeitando a tudo por amor a Jesus, a exemplo de Jesus, o Senhor, que se sujeitou a tudo sendo Ele o Filho de Deus!
A pessoa que vive uma fé verdadeira centrada em Cristo jamais se deixa abater pelas adversidades, ao contrário, enfrenta as circunstâncias de cabeça erguida e atitudes criativas. As intuições que o Espírito Santo lhe envia faz com que ela se erga de suas apatias e assuma a própria vida sem esquivar-se, com alegria e confiança em Deus. A presença de Jesus, através do Espírito Santo em todos os momentos fortalece a fé da pessoa, a encoraja a manter-se firme, a torna serena, mesmo se estiver passando por sofrimentos, e ao mesmo tempo a prepara para todo e qualquer tipo de adversidade, e ela é tomada por uma força inabalável. Força que não é dela por ser criatura frágil, mas de Deus que tudo pode e a fortalece. Mas esta força só a tem pela fé e não pela razão.
4. O que é a Realidade?
As verdades individuais não são
verdades absolutas, porque representam a verdade de alguém, de uma cultura, de
um povo. São verdades relativizadas e pode ser distorcida e criar uma realidade
falsa, aparente. Cada um tem a sua verdade e tem interpretação diferente da
realidade, podendo camuflar a verdade ou fazer com que uma mentira se ”pareça”
com a verdade. Nesse caso, mesmo sendo real, não é a verdade. Para ser verdade
uma afirmação precisa ser fiel à realidade, porque realidade “é”, simplesmente,
a realidade não é ilusória, não precisa de comprovação, os fatos dizem por ela.
Quando empenhamos a razão para
julgar as coisas devemos considerar que “razão
é consciência da realidade segundo a totalidade dos seus fatores” (Exercícios
da Fraternidade de Comunhão de Libertação, Rimini 2012, pág. 15). Isto quer
dizer que a realidade é muito mais abrangente do que podemos alcançar com a
nossa limitada percepção, e o homem é mais do que um simples corpo que pensa, e
possui sentidos, ele anseia por algo mais, ele é sede de infinito. Há que
considerar, ainda, a intimidade profunda que existe entre a razão e a pessoa,
como uma unidade. A pessoa tende a sofrer influência que mexe na sua estrutura,
basta observar quando nos encontramos em desarmonia, sofremos um desequilíbrio
emocional ou doença orgânica repentina a nossa razão fica comprometida, como
que bloqueada. Isto porque a razão, não é uma máquina, ela faz parte da
personalidade da pessoa.
Se a razão lança-nos em busca da
verdade devemos considerar que ela não é suficiente para se chegar à verdade
absoluta, porque não há ninguém ainda, com uma inteligência tão ampla que
ofereça respostas a todas as indagações do humano. Como dizia William Shakespeare:
“Há mais mistérios entre o céu e a terra
do que a vã filosofia dos homens possa imaginar! ”.
Se aprofundarmos nesta questão
compreenderemos que aquilo que existe, que a nossa inteligência pode alcançar e
as nossas mãos podem tocar são realidades criadas, mas não criadas por nós.
Luigi Giussani diz em O Senso Religioso, p. 210: “O Homem pode manipular o que existe, mas não pode dar a existência a
nada”. Podemos perceber a verdade dessas palavras de Giussani, observando
as nossas pequenas criações, que, em algumas vezes, até nos dá títulos de
doutorado. Elas têm origem na inspiração, num mistério que está além de nós. É
sábio quem admiti as suas limitações. Santo Tomás de Aquino afirmava que a “humildade é o primeiro degrau para a
sabedoria”.
E quando se fala em invenção,
descoberta ou criação é insensatez pensar que se pode criar algo por si só,
tudo em nós, que é capaz de gerar, de inspirar e dar vida tem origem em Quem
cria tudo, cria incessantemente – Deus. As descobertas não são criações humanas
são criações de Deus para que fosse manifestado (descoberto) no tempo certo.
Jesus, na conclusão do discurso do Sermão da Montanha deixa-nos claro a nossa
realidade. A nossa vida só é possível construí-la de forma razoável se
estivermos em sintonia com Aquele que gera a vida em nós: “Quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato
que construiu a sua casa sobre a areia” (Mateus 7,26), isto é, construiu a sua vida sob bases frágeis, que não se
sustentam. Então, a nossa sabedoria e tudo mais é nada, sem Deus.
Podemos afirmar, sem sombra de
dúvida, que, o que se tem à nossa frente é a realidade visível, e é parte da
verdade, porém a realidade visível não abarca toda a verdade. A verdade é
abrangente e nela está o visível e o invisível. Não se pode contentar com meias
verdades principalmente quando se trata da vida (vida terrena), de sua origem e
fim. Tudo que é matéria tem um começo e tem um fim e mesmo tendo o homem a
liberdade de escolher o que lhe é mais apropriado, não pode determinar nem o
começo nem o fim da vida, como a vivemos aqui. Assim, o nosso existir é a prova
maior da existência de algo maior que nós, apesar dos nossos sentidos não
alcançar o “Ser” que nos gerou e gera-nos a vida incessantemente Ele EXISTE.
Conclui-se que a razão, para ser
completa deve admitir, então, outra verdade além da que se pode ver: um Ser,
Deus, que deu existência e sustenta tudo, e que a realidade trás em si o sinal
de Quem a criou, que não se pode tocar e ver com os olhos, mas se pode intuir,
porém com cautela, porque é mistério e como tal, qualquer tentativa de
conceituar pode-se levar a erros, pelo fato de não se poder provar. E para quem
baseia suas crenças em provas, pela impossibilidade de provar o Ser, se instala
a dúvida, o embaraço, e é mais cômodo admitir a não existência de Deus do que
buscar as respostas em outros meios revelados que não pode ser provado, mas é
real e experimentável, porque faz parte da natureza e experiência da humanidade
do humano. Como já mencionado aqui, Blaize Pascal dizia: "O homem
está sempre disposto a negar tudo aquilo que não compreende."
5. Propriedade Intelectual ou Concessão Intelectual
A liberdade do homem permiti-lhe
fazer o que bem quiser, até dar o seu nome às coisas criadas e descobertas, mas
se esquecem de que o talento investigativo, bem como as condições, para que as
coisas ocorram vem de Deus.
Agostinho, o mais profundo filósofo da era patrística (anos 400) e um dos maiores gênios teológicos de todos os tempos, considerado santo e doutor nas igrejas Católica e Anglicana, antes de se converter ao cristianismo era maniqueísta gnóstico. Quando confrontou o cristianismo com suas convicções antigas escreveu suas constatações em um livro “Confissões”, que é mais uma declaração de amor a Deus. A respeito dos sábios da época ele discorreu: “Dizem muitas coisas verdadeiras acerca das criaturas; mas, não procuram religiosamente saber de onde lhes vem o talento com que investigam as coisas, e, como não procuram piedosamente a Verdade, isto é, o autor da Criação, não O encontram; e, se o encontram reconhecendo-o por Deus, não o honram como a Deus, nem Lhe dão graças. Antes, se desvanecem em seus pensamentos, e se dizem sábios, atribuindo a si próprios o que é de Deus”.
Em outro momento disse:
[...]
não chame ninguém de mestre na terra, pois o verdadeiro e único Mestre de todos
está no céu. E o que há nos céus, no-lo ensinará Aquele que, por meio dos
homens, também nos adverte com sinais exteriores, para que, voltados para Ele
interiormente, sejamos instruídos (AGOSTINHO,
2008, p. 409).
Não existe um ser humano sequer,
que não se sinta dono de suas criações, descobertas ou invenções. Tanto é
verdade que criou-se leis de patentes internacionais para preservar a
propriedade. Sem querer entrar no mérito dessa questão e, com as implicações que
existem nesta área de direitos autorais, não é conhecido, pelo menos não
publicamente, que alguém enaltecesse o Verdadeiro autor de suas criações, como
sendo algo ou alguém além de si. No entanto, a verdadeira inspiração está em
Deus, que concede ao homem dons especiais em benefício de todos. É verdade que
o homem é livre para decidir e escrever a sua própria história, mas Deus pode
intervir como e quando quiser já que tem o poder de dar e tirar a vida e dá os
dons a quem quiser. Apesar de sermos livres, Deus está no controle de tudo, mas
não é para nos fiscalizar e nos censurar, é para nos ajudar a fazer as escolhas
mais acertadamente, porque não temos a capacidade de ver as coisas de forma
ampla e quase sempre erramos. Mas para perceber os seus sinais é preciso uma
humanidade desenvolvida que se alcança pela fé.
Alguns textos bíblicos que
confirmam que Deus tem o controle:
¾
“Ele controla tudo que acontece
na Terra. Ele derruba os reis de seus tronos e coloca outros em seu lugar. É
Ele quem dá sabedoria aos sábios e inteligência aos que estudam.” (Daniel 2,21).
¾
“Ele mesmo dá a vida e a
respiração a tudo, e satisfaz todas as necessidades que existem”. (Atos 17,25).
¾
“Todos esperam de ti que lhes dês
de comer a seu tempo. Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se
fartam de bens. Se ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a
respiração, morrem e voltam ao seu pó." (Salmo 103, 27-29).
Entendemos que entre as pessoas no meio científico que contestam a existência de Deus e colocam objeções à Fé Cristã há uma predisposição a negar as verdades de Deus e por mais que aconteçam provas em contrário e mesmo os milagres, eles estão fechados à verdade. São como os fariseus da época de Jesus.
6.
Deus é Mistério e Se Revela a Quem o Busca
É
preciso
um coração originalmente aberto para que o Mistério se revele. A vida depende
desse fator para ter significado. Mas um coração original assim como Deus o fez
é algo que se deve conquistar, a partir da evolução da consciência, que se dá
pela libertação do pecado. É acessível a qualquer ser humano – os santos
conseguiram. Deus está além da razão ou da imagem que fazemos Dele, por que Ele
é transcendente, isto é, sobre-humano, e há algo em nós que clama a sua
existência. A nossa natureza é completamente dominada pela necessidade de
sentido, sem o qual a vida é nada. Tanto é verdade que a ausência de sentido
tem sido a causa de muitas doenças que se evoluem, levam à morte e em muitos
casos, em até tirar a própria vida e a de outros.
Para
nos sentir vivos precisamos nos realizar e a realização se expressa em forma de
liberdade, de alegria, enfim de felicidade, e esta é a verdade de nós mesmos,
mas que está em Quem nos criou assim com esse desejo ardente por vida.
Aquele
que criou tudo se revelou na história do homem para se tornar compreensível ao
homem. Revelou-se na forma de “Um Filho”, JESUS, que nos ensinou a chamá-lo de
“PAI”: “Pai nosso que estais no céu”. Está
no céu e em todos os lugares e em tudo, como diz o belíssimo salmo 138: “... vós me perscrutais e me conheceis,
sabeis tudo de mim... é tão sublime que não posso atingi-Lo... Fostes vós que
plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me tecestes no seio de minha mãe... Ó
Deus, como são insondáveis para mim vossos desígnios! ...” E também o Salmo 8, maravilhosamente
narra a beleza do cosmo e da criação de Deus. O autor desses salmos, Davi teve
uma incrível experiência com Deus e foi da sua estirpe que gerou José, o pai
adotivo de Jesus, bem como Maria, a jovem cheia da graça de Deus, escolhida
para abrigar em seu seio a essência do Ser.
O que
conhecemos de Deus foi-nos revelado nos textos bíblicos, nas pessoas dentre
outras, Abraão, Jacó, Moisés, os profetas e Davi, que tiveram estreita relação
com Deus, mas quem O revelou, tal como é, foi Jesus. E a forma mais adequada
para se fazer entender foi chamá-lo de “Pai”. Devemos, no entanto, entender a
paternidade de Deus como muito mais profunda, impossível de ser entendida por
medidas humanas. Deus é Pai e Mãe ao mesmo tempo, mas não como o podemos
imaginar, é mais, muito mais — Ele está no profundo de mim, me faz
incessantemente —, a cada instante somos feitos por ele, neste exato instante
ele está me fazendo e fazendo a você, gerando a vida e guiando-nos ao destino!
7.
Origem do
Racionalismo
Depois do cristianismo já ter
caminhado por dezessete séculos, surgiu no Século XVIII, o movimento chamado de
iluminismo, se referindo ao período cristão, sob o controle da Igreja Cristã,
como período de trevas. Este movimento defendia a razão como o melhor caminho
para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. Fez uso da razão
para combater a fé na igreja e a ideia de liberdade para combater o poder
centralizado da monarquia. Com essa essência transformou a ideia de homem e de
mundo incutindo nas mentes que o pensamento racional deveria substituir as
crenças religiosas, que no pensar deles bloqueavam a evolução do homem. O homem
deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, até
então, eram justificadas somente pela fé. Foi a partir daí que surgiu a ideia
da razão em contraposição à Fé. Mas a Fé exige mais da razão do que as coisas
palpáveis, simplesmente porque a matéria não precisa muito esforço para
assimilá-la, ela se explica por si mesma, quanto à fé é preciso uma razão cuja
experiência está além do que se pode ver e sentir com os sentidos do corpo, e
está interligada em tudo, e, principalmente ao significado da vida.
O racionalismo iluminista
caracterizou-se pela confiança na razão, no progresso e na ciência, e pelo
incentivo à liberdade de pensamento. O ideal do Iluminismo era levar esses
valores a prevalecer e triunfar sobre o mito, a crendice, o "sobrenatural",
o misticismo, a fé, o dogma, o fanatismo, a intolerância. É inegável, os
benefícios que esse movimento trouxe à sociedade, no que se refere aos setores
político, social, científico, literário e cultural e também no campo da fé, com
o surgimento do Racionalismo Cristão, que permitiu às pessoas usarem a razão e
poderem raciocinar de maneira mais livre sobre o conhecimento da vida real,
material e espiritual, contribuindo para o exercício da fé mais apurada.
Entendemos que os propósitos de Deus estão sempre presentes conduzindo o homem
para uma melhor compreensão da mensagem vivificante de Jesus e que precisam ser
atualizados em vista de novos paradigmas que Deus permite que ocorram para
preparar o mundo naquilo que Deus entende ser necessário para o bem do homem.
Mas devemos admitir que todas as
coisas feitas pelo homem não está isenta de falhas, mas quando Deus permite
ocorrem, e mesmo com falhas Deus sabe tirar vantagem dessas falhas para o bem
de todos. Por isso entendemos que apesar do movimento iluminista ter provocado
um rompimento com a ideia de Igreja-Estado e ter valorizado demasiadamente o
homem, a ponto de desconsiderar que na imagem do homem está Deus, acabou por
ser benéfico à fé, no sentido de que permitiu-se usar os argumentos da razão
para atestar a experiência sobrenatural advinda através da fé vivida, não
apenas emotiva, mas experimentada na vida. E no que diz respeito à experiência não pode existir
qualquer conflito entre Fé e Razão.
A prova disso está no fato de que
Cristo foi o homem mais racional que já existiu sobre a face da terra, com uma
inteligência profunda, aberta e livre para perceber tudo ao seu redor. E para
ser Seu imitador é preciso que se aperfeiçoe a razão para entender o Novo Reino
que Ele veio anunciar. Não podemos esquecer que o nosso maior objetivo enquanto
vivemos no mundo é mostrar ao mundo que somos de Cristo, seguindo-O em nossas
práticas, onde quer que estejamos.
Lembro-me aqui de uma expressão
de Paulo que gosto muito: “... tudo vos
pertence:... o mundo, a vida, a morte, o presente, o futuro,... tudo é vosso,
mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (ICor 3,23).
8.
A Fé em
Cristo submetida à Razão
Como vimos, mesmo pelo fato do
Movimento Iluminista ter minado a fé de muitos, não há oposição entre a Fé e a Razão, assim como não há
contradição com a nossa razão em crer no fato da encarnação de Cristo, para uma
melhor compreensão da existência humana e do incomensurável poder de criação de
Deus. Aqueles que se recusam a crer na novidade da encarnação de Cristo não só
negam um fato histórico, mas demonstram ter uma razão habituada a conhecer as
coisas sob um certo ponto de vista, mas a mente está obscurecida pelo “velho” e
não admite a hipótese do “novo”. A novidade exige uma renovação da razão.
Uma razão que se recusa aceitar o
novo e a reconhecer no “novo” uma nova forma mais apurada de perceber a
realidade, é como se negasse a avançar porque a mente se encontra endurecida e
agarrada a conceitos antigos, não se permitindo inovar.
A encarnação de Cristo, bem como
toda a sua vida, seus milagres e prodígios, sua mensagem inovadora, sua morte
assentida, para depois retomá-la (Eu dou
a minha vida para depois retomá-la!), já anunciando a Sua Ressurreição, é
algo completamente novo na história da humanidade. Tudo na história de Cristo
tem a ver com os anseios do homem e, principalmente com o seu maior anseio que
é encontrar com a sua origem, ver o seu Criador e este foi e é o ideal de Deus
quando gerou Cristo: levar as pessoas às suas origens eternas, para a qual foi
feito.
Quem se recusa a crer no poder de Deus para gerar um novo “Ser” “Jesus Cristo”, está colocando limites a Deus e não poderia sequer crer na possibilidade da criação do mundo e de si mesmo.
9.
Fé - Razão Inteligente
“A Fé é uma forma
de conhecimento que vai além do limite da
razão, ela capta algo que a razão não pode captar”. (Julian Carrón, carta à Fraternidade de
Comunhão de Libertação, novembro de 2012).
A Fé está além da
razão, porque:
¾
A razão se
vale da lógica perceptível externamente, a qual é possível mensurar de acordo
com a capacidade humana limitada pelo alcance e inteligência de cada um, mas
não exige o empenho dos sentidos mais amplos, apenas os sentidos palpáveis;
¾
Já a fé abre
para o conhecimento e a percepção daquilo que não se explica pela razão, onde
se empenha a liberdade e os sentidos, e alcança o Espírito Divino que não está
limitado à capacidade da inteligência humana, mas ao incomensurável poder
divino, e assim se tem acesso ao extraordinário.
A Razão não bloqueada não julga a partir de
impressões, interpretações ou sugestões, parte do fato, do acontecimento. Não
se conforma com a aparência, nem com o que vê apenas, ela precisa de mais,
precisa da verdade, por isso se move em busca da verdade. Não se permite
dominar pelo sentimento (sentimentalismo), mas é compenetrada por afetividade.
Mas por que afetividade? Porque o ser humano completo é movido por razão e
afetividade. O coração humano é revestido de razão e afeição, caráter do seu
Criador.
A religiosidade é algo que está
na natureza humana: ao impactar com a realidade, observar o universo, a
natureza e tudo mais, nasce de dentro dele o questionamento sobre o significado
de tudo isto. E a fé é uma resposta a este questionamento que é despertado
nele. A fé em Cristo é maravilhosamente conceituada por Luigi Giussani, em O
Senso Religioso: “A fé é reconhecer uma
Presença excepcional, totalmente correspondente ao próprio destino, e aderir a
essa Presença”. A fé é, portanto, um ato da razão de aceitar um fato
histórico, inegável – Jesus Cristo – e se permitir ser alcançado por este fato
– já que muitos foram alcançados por Ele, porque não “eu” também?
Jesus Cristo é um acontecimento histórico, é
um fato e não se pode negá-lo, como não se podem negar as ocorrências de Suas
manifestações entre pessoas de fé. O acontecimento cristão mudou os rumos do
mundo e continua mudando, crendo ou não, mesmo à revelia daqueles que não
querem admitir.
Os acontecimentos no mundo são
sinais de Deus e Cristo é o maior sinal de Deus, o maior acontecimento da
história humana em todos os tempos. Os sinais de Deus continuam presentes nos
acontecimentos, fortemente ligados com a realidade e são para chamar a nossa
atenção para a verdade das coisas, as quais nos servem de provocação para
direcionar o nosso olhar e as nossas escolhas, para que nos movamos de nossas
apatias. Como um presente que se recebe de alguém representa mais do que um
simples presente, porque por trás está a intenção do doador, assim também os
sinais nos acontecimentos estão nos dizendo algo mais.
A fé em Cristo não pode ser
apenas um ideal, uma imaginação, ela tem a ver com a vida, há de ser algo que
muda profundamente a pessoa, a partir da sua abertura à fé. A fé verdadeira em Cristo leva-nos a ser
racionais e avaliar com a mente e o coração para que possamos entender os
sinais de Deus em cada situação a qual nos deparamos.
A postura de quem vive a fé
verdadeira é como a postura do cientista, há que se questionar. Não se pode
tirar conclusões apressadas. Na busca pela verdade há um caminho que transcende
ao humano, porque o único conhecedor da verdade absoluta é Deus que a torna
conhecida através de Cristo. Basta que para isto sejamos obedientes aos
ensinamentos de Cristo.
—
“Se vocês continuarem a obedecer
aos meus ensinamentos, serão, de fato, meus discípulos e conhecerão a verdade, e a verdade os libertará”.
(João 8,32)
Por nós mesmos não conseguiremos
atingir a verdade porque a nossa estrutura de valores, muitas vezes são
baseadas em critérios influenciados por nossos condicionamentos, muitos deles
inconscientes. Acostumamo-nos a julgamentos e visões que convivemos com eles e
formulamos a nossa verdade em vistas dos nossos hábitos. Quando nos deparamos
com a verdade divina que Cristo nos trouxe, nos impactamos e nos maravilhamos.
Cristo é e sempre será, em qualquer situação, o exemplo a seguir,
principalmente no que se refere à humildade. Não temos a verdade absoluta de
nada e muitas vezes pensamos com os sentimentos e emoções. Devemos ter
paciência e nos colocar em silêncio e oração e na humildade e perseverança na
fé, e aguardar os sinais de Deus na realidade. A verdade quando se manifesta
sempre nos surpreende. As nossas
projeções são projeções humanas e Deus é imensamente maior do que as nossas
projeções. Por isso sempre nos surpreendemos e nos maravilhamos, quando a
verdade vem à tona.
É interessante observar que nos
passos que se dá em busca da verdade faz-se o caminho de ascese, que são como
exercícios para alcançar o aperfeiçoamento espiritual. Coisas que antes causava
grande interesse e dava prazer passam, aos poucos, a interessar menos. Algumas
como grandes badalações e coisas vãs perdem-se completamente o interesse por
elas. Pode-se dizer que esta é a postura que leva a pessoa a se transformar de
“homens velhos” a “homens novos”, como nascer de novo, não
voltar a ser criança, mas nascer do Espírito iluminado por Cristo, por Seu
Espírito que está dentro de cada um, no mais recôndito da pessoa, (João 3, 7: Não
te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo).
Viver a experiência de
transformação de “homem velho” em “homem novo” ou mesmo perceber esta
necessidade de transformação é por à prova a inteligência da fé que busca e
recebe da fonte, Daquele único capaz de criar, Daquele que cria o corpo e
transforma o ser humano em “pessoa”, porque dá-lhe dignidade de entender o
significado da vida. A fé inteligente favorece a pessoa maravilhosamente,
porque coloca-a em posição de espera, mexe
com o seu ânimo, a faz mover-se em busca da verdade. Santo Agostinho
afirmava: “Com a expectativa, Deus alarga
o nosso desejo, com o desejo alarga o ânimo e dilatando-o torna-o mais capaz”.
É assim que a pessoa alcança a
cidadania do Reino de Deus, e pode experimentar na vida uma fé verdadeira, que
pode ser percebida a mudança no meio em que vive, nas pessoas com quem se
relaciona como oferta de si para o outro. Só assim pode-se dizer que a fé não é
uma abstração, mas fruto da razão baseada na experiência viva de quem vive a realidade
tal como ela é.
10. Os Ensinamentos de Jesus Cristo e o Homem
Os ensinamentos de Jesus Cristo,
se interiorizados na pessoa a partir da Fé provoca nela uma inteligência para a
percepção do real, isto é, uma razão apurada para a realidade da vida e de tudo
que a cerca.
A vida do homem é carregada de
incertezas e o seu fim é a única certeza que paira como uma nuvem ou incógnita
diante de algo que não se pode mudar por si mesmo. E se transforma em um peso para quem não
conhece Cristo. É duro suportar uma incerteza por longos anos. Mas quem conhece
a Cristo e o ama é tomado por uma energia de vida que o torna possuído de
dignidade e nada é capaz de abalá-lo.
É assim que Deus se manifesta na
história da humanidade para saciar a sede oculta que há no homem, sede de
infinito, de explicação para o existir, para o trabalho do dia-a-dia, para o
sofrimento, enfim, para as indagações da alma.
Jesus vem responder às indagações
humanas, não solucionar os dilemas do humano, mas ser a luz para iluminar as
mentes abertas e desejosas de encontrar as respostas para os seus problemas em
qualquer esfera. Não eliminar o sofrimento humano, mas dar um sentido à vida do
humano, que mesmo com dores e sofrimento pode encontrar repouso e a paz em Sua
presença, com a consciência de que Ele é sempre presente e real, e mesmo que os
nossos olhos não O veem podemos experimentá-lo em nossa vida, pela fé. O que os
olhos não veem e não se pode medir materialmente, o coração pode sentir e
experimentar na vida real, portanto, é a exata medida de que a FÉ e RAZÃO
caminham juntas. Quanto a isto os ateus materialistas ficam em desvantagem por
não desejarem ver aquilo que não querem ver.
Os ensinamentos de Jesus Cristo
vêm de encontro aos relacionamentos humanos e ao relacionamento do humano com
Deus. Deus não é o rei distante, que fica lá longe no seu trono, insensível à
dor humana, Ele é Pai que ama os seus filhos e quer salvá-los de um destino
infeliz. Quer dar-lhes uma direção abrir-lhes a mente para a novidade que traz
o relacionamento com Ele.
Assim, o advento de Jesus, o
Messias, é a maior novidade de todos os tempos, por que ele anuncia um novo
jeito de entender Deus e relacionar-se com Ele. E a maior novidade está no
anúncio de um Reino até então inimaginável, um Reino dos Corações das pessoas –
“venha a nós o Vosso Reino”.
11.Deus não Facilita a Fé para os que não Creem
– A Fé há de ser um ato da
liberdade da pessoa
Uma pessoa habituada a acreditar somente
naquilo que é tangível não é fácil mesmo mudar seus conceitos. E se for buscar
conhecer as verdades bíblicas com preconceito encontrará motivos para continuar
em sua incredulidade, porque a base bíblica está fundamentada na fé de um povo
que viveu experiências fantásticas que só se explica pela fé. Como pode um mar
ser aberto e passar
por dentro dele a seco; um homem subir numa carruagem de fogo e não se achar o
seu corpo, três homens serem lançados numa fornalha e não se queimarem, os
ossos de um profeta já morto ressuscitar um cadáver quando este entra em
contato com seus ossos... Não dá para um cético aceitar algo assim, aceitar com
facilidade estas informações é algo que somente pela fé é possível... Mas tudo
isso aconteceu.
Agora pensem...
Se DEUS se revelasse na sua
totalidade e esclarecesse todas as dúvidas acerca da sua origem e existência,
todos acreditariam Nele, mas pense: - Acreditariam Nele pela razão óbvia de Ele
ter se revelado, por um motivo concreto, Ele se revelou, isso quebraria a
própria base bíblica.
DEUS QUER SER CONHECIDO POR MEIO DA FÉ!
Observe 1Coríntios 1, 18-25: A linguagem da cruz é loucura para os que se
perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. Está
escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos
prudentes (Is 29,14). Onde está o
sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus
por loucura a sabedoria deste mundo? Já
que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina,
aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura de sua mensagem. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam
a sabedoria; mas nós pregamos Cristo
crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; mas, para os eleitos - quer judeus quer
gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de
Deus é mais forte do que os homens.
E
Jesus cumpre muito bem a tarefa de
confundir ainda mais os sábios deste mundo, sendo loucura entre os céticos. Em
momento algum Ele facilitou as coisas aos doutores da lei na sua época.
Veja
o que Ele disse sobre Si aos judeus famintos que andavam atrás dele para comer
de graça do pão que Ele havia multiplicado no dia anterior:
“Eu
sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o
pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. A essas
palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos
de comer a sua carne? Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo:
se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a
vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia”. (João 6,51-54)
Como acreditar em
algo que não se pode ver nem se conhecer?
Jesus sabia disto e esclarece no
v. 17 que o conhecimento de Deus está no nível espiritual, no âmbito da fé e
não na sabedoria da razão que o mundo exalta. Veja: “16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que
esteja para sempre convosco, 17 é o
Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o
conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós”.
(João 14,16-17).
Deus só se manifesta àqueles que tem fé e não aceita ser desafiado, é “crer” ou “não crer”, não tem meio termo. Esta pedagogia de Deus é para que a fé seja livre, isenta de subterfúgios, sem qualquer pretensão. DEUS revelou apenas o que precisamos saber… DEUS é esse Ser invisível, só visto com os olhos da Fé, mas, real, que executa milagres desde a antiguidade até os dias de hoje.
CONCLUSÃO
Concluo com o conceito do filósofo e teólogo
Santo Agostinho sobre a Fé e a Razão:
“A autoridade
(Deus) exige a fé e conduz o homem para a razão. A razão leva ao entendimento
consciente. Por outro lado a autoridade é provida de um conhecimento racional
se considerar que é ela a quem se devota a fé. E ainda: todos nós sabemos que
somos estimulados ao conhecimento, pelo duplo peso da autoridade e da razão.
Assim eu
considero que definitivamente não devo me afastar da autoridade de Cristo,
porque não encontro outra mais válida. Contudo, aquilo que se deve alcançar com
o pensamento filosófico, tenho, entretanto a confiança de encontrar nos
platônicos temas que não repugnem a palavra sagrada. Essa, com efeito, é a
minha atual disposição: desejo aprender sem demora as razões do verdadeiro, não
só com a fé, mas também com a inteligência.”
Em outras palavras o que ele quis
dizer é que, se somos racionais é porque Quem nos fez nos fez assim, e se assim
nos fez é porque Nele contém a racionalidade. Se para entendê-Lo e penetrar em
seu Mistério precisamos da fé, significa dizer que no ato de fé Nele é a
própria razão (a nossa inteligência) que é empenhada.
Segue
Capítulo II - O Código de Criação
https://mochileirosdobem.blogspot.com/2024/01/deus-principio-e-fim-de-tudo-livro.html
Capítulo III - O Caráter de Deus
https://mochileirosdobem.blogspot.com/2024/01/deus-principio-e-fim-de-tudo-livro_21.html
Capítulo IV - RELIGIOSIDADE - Manifestação do Desejo de Deus na Sua Criatura
https://mochileirosdobem.blogspot.com/2024/01/deus-principio-e-fim-de-tudo-livro_22.html
Geovani Alves Soares de Santana
Endereço Eletrônico: ggpiss.geovani@gmail.com
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